domingo, 19 de abril de 2009

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL-MARIANA-MG APRESENTA: CLEVANE PESSOA DE ARAÚJO LOPES

Exposição Clevane Pessoa - Obra -
Graal Feminino Plural

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL-MARIANA-MG APRESENTA:CLEVANE PESSOA DE ARAÚJO LOPES - PATRONA: LAÍS CORRÊA DE ARAÚJO





Clevane Pessoa de Araújo Lopes é escritora de prosa e verso, psicóloga, artista plástica – ilustradora, palestrante, divulgadora cultural, revisora e uma série de outros comprometimentos ligados à arte em geral, incluindo oficinas literárias e também de psicologia.Nordestina, nasceu em São José de Mipibu/RN, em 16/07, mora em Minas Gerais desde os seus seis (6) anos de idade, tendo se ausentado durante de dez anos, quando morou no NE, em São Luiz/MA e N, em Belém/PA, levada pelo trabalho do seu marido, retornando à capital mineira em 1990. Seu pai Lourival Pessoa da Silva era paraibano, radicado em Natal, e a mãe Terezinha do Menino Jesus da Silva, rio-grandense-do-norte (potiguar ou norte-rio-grandense). Seu avô materno, Luiz Máximo de Araujo, era paraibano, jornalista, poeta e trovador da tradicional família Araújo, e a avô materna D. Theófila Theonila Câmara de Araújo, era prima de D. Helder Câmara pelo lado dos Câmara Leite. Ela era bisneta de índios potiguares. Seu avô paterno, da família paraibana Pessoa, foi o maestro Manoel Pessoa, e a avó paterna Maria Rodrigues de Sousa. A veia artística de veio dos dois lados da família. O pai era telegrafista-militar e a mãe estudou enfermagem em Juiz de Fora, onde foi parteira e assistente obstetra. O pai, de espírito aventureiro, sempre que sabia de uma vaga no seu cargo, pedia transferência e Clevane teve uma infância peculiar, morou em Japurá/AM, na fronteira com a Colômbia, na Paraíba, em Natal, em Manaus e na Ilha de Fernado de Noronha, onde aos cinco anos fez a Primeira Comunhão. Como a mãe não tinha muito o que fazer em Japurá, alfabetizou a filha (a outra, Cleone tinha menos de dois anos). Clevane aprendeu a ler e escrever aos três anos. A vinda para Minas Gerais foi motivada por um Tenente de JF que tecia muitos elogios à "Manchester Mineira", despertando o interesse do seu pai, que acabou mudando-se para cá. E aqui criaram raízes. Em Juiz de Fora estudou no Colégio Santa Catarina, da Congregação de Santa Catarina, e no Colégio Santos Anjos, depois parte do ginásio (hoje 1º grau) no Colégio Estadual, onde era a mascotinha pois entrou com 10 anos na primeira série. Aprendeu a desenhar em Juiz de Fora, Clério de Sousa, o Pimpinela, na Escola de Belas Artes Antonio Parreiras. Com o avô Luiz Máximo de Araujo aprendeu a fazer trovas aos nove anos. Aos dez anos de idade, tem consciência de que começou a escrever poemas – sendo seu primeiro poema sobre o nascimento de Jesus. Com a mãe, aprendeu bem pequena a declamar e na adolescência começou participar de atividades teatrais como artista e autora. Aos doze, morou no sul de Minas Gerais e estudou no Colégio Sagrado Coração de Jesus de Itajubá, da Irmãs da Providencia de GAP, quando morou na vila militar REPI – Rede Elétrica Piquete Itajubá, onde passou a adolescência. Quando do golpe militar, em março de 64, voltaram a Juiz de Fora onde terminou o segundo grau (curso de normalista), novamente no Colégio Santos Anjos.Como não tinha idade para entrar na faculdade e naquele tempo precisava-se de licença da SEE, iniciou suas investidas na imprensa, trabalhando na Gazeta Comercial, onde assinava a coluna diária Clevane Comenta e a domingueira Gente, Letras e Artes. Assinou Carrossel e Ribalta Lítero Artística. Nessa época conheceu Messias da Rocha, redator chefe de A Tarde, que foi seu primeiro marido, com quem teve o filho, Cleanton Alessandro Pessoa Rocha, que é músico e desenhista. Foi editora de Literatura e Arte do tablóide de vanguarda Urgente, entre outros, como A Voz de Rio Branco, de Visconde de Rio Branco/MG, onde mantinha a página A Voz da Mulher. Escreveu na revista o Lince e em outras. Ainda em Juiz de Fora foi empossada no Núcleo Mineiro de Escritores – NUME, com participação ativa, e com seus vinte anos assumiu a presidencia da UBT/Seção de Juiz de Fora pelo período de 68 a 72. O que levou Clevane Pessoa a estudar psicologia e não jornalismo foi à causa de um irmão com síndrome de Down que queria entender melhor. Iniciando seus estudos no CES – Centro de Ensino Superior, em Juiz de Fora até ao oitavo período, concluindo-o na FUMEC/Psicologia, em Belo Horizonte, pois, quando do seu casamento com o engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva, mudou-se para Belo Horizonte. Com ele teve seu outro filho, Gabriel que é massoterapeuta.Embora morando em São Luis ou Belém não deixou calar sua arte, sua palavra e sua missão como psicóloga de oferecer ao próximo o melhor de si. Funcionária Pública Federal, trabalhou no antigo INAMPS. Como psicóloga, com seu caráter humanista, sempre lutou pela criança, família, mulher e adolescentes, sendo pioneira nas ações brasileiras pelo atendimento integral, multidisciplinar à criança e à adolescência. Pelo Ministério da Saúde, ministrou oficinas em vários estados brasileiros, quando trabalhava no Hospital Júlia Kubitscheck, no Barreiro de Cima, onde coordenou e criou a Casa da Criança e do Adolescente, com equipe multidisciplinar. A pedido do MS, organizou no HJK, o I Seminário Brasileiro de Saúde reprodutiva e Sexualidade na Adolescência. Gravou 48 horas de vídeos para o Projeto educativo "Saúde, Vida, Alegria, CECIP/Kellog", sendo responsável por Metodologia Participativa e pelas oficinas com adolescentes de várias classes sociais, institucionalizados, feirantes, mães–meninas, moradores de favelas, classe A etc. Em 2002 recebeu uma placa de aço pelos "relevantes serviços prestados aos menos validos", no Dia da Mulher, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, por iniciativa da então deputada Elaine Matozinhos, que acompanhara seus trabalhos.Como artista plástica, participou de exposições em colégios e faculdade. Na FUMEC/BH-MG, na I MOSTRA DE ARTES, expôs as telas: Pesadelo, A Alma da Mulher na Madrugada Finda, Praia Deserta e poster-poemas (estes declamados no sarau literário do evento). No Festival de Arte Biquense (anos 60), foi Menção Honrosa com o quadro PEQUENO MUNDO DO IRMÃO CAÇULA, desenhando em azul meu irmão Júnior, que tem Síndrome de Down. Nas Semanas da Mulher, da Criança e do Adolescente, expôs desenhos pertinentes aos temas, muitas vezes, poesia ilustrada. De 2000 para cá, ilustrou "A MALDITA PERFEIÇÃO" (livro de Jairo Rodrigues-30 desenhos, em tecido), a mostra das poesias de Rogério Salgado, Completa Ceia, tornadas, por Virgilene Araújo, espetáculo teatral (Intinerarte), Brincando de representar (peças e esquetes de teatro infantil), de Virgilene Araújo e Rogério Salgado.Também criou o PPP, Projeto Poesia-no-Pano, desenhando a bico de pena em tecido, com poesias manuscritas, entre outros projetos em andamento. Em 2008, comparece com vinte e cinco desenhos distintos, a bico de pena, no ORIGINAL-"Livro de Artistas", organizado por Regina Mello, Diretora do Museu Nacional da Poesia-MUNAP, do qual é pesquisadora. Ilustrou os quatro primeiros exemplares de Estalo, a Revista. São de sua lavra as ilustrações de seus livros Asas de Água (poesia) e Mulheres de Sal, Água e Afins (contos). Como escritora, participa em mais de 80 coletâneas, por mérito de classificação em certames, ou livro cooperado, entre autores, entre editor e autores. incluindo partes do livro "Adolescência, Aspectos Clínicos e Psicossociais", Edit Arte Med/RS. Artigos em revistas, mais recentemente, a Revista aBrace, do movimento Cultural aBrace, Brasil/Uruguai. Além de ter suas obras em centena de endereços eletrônicos nacionais e internacionais. É autora dos livros:Poesia: Sombras Feitas de Luz (editora Plurarts);Asas de Água (Editora Plurarts);A Indiazinha e o Natal (Ed.Haruko);Partes de Mim ( RGD Ed.)Prosa: Mulheres de sal, Água e Afins – de Contos, em editora do Rio de Janeiro (Urbana) e Libergráfica Editora em Belo Horizonte.Na Internet, tem 19 (dezenove) e-books de ensaio, poesia, infantis, memórias etc. Em novembro de 2007, foi agraciada com a Medalha do Grande Colar de Mérito da Câmara Municipal de Belo Horizonte, sendo na ocasião, a única representante dos poetas.Em de 2007, completou 50 anos de Poesia, pois começou a fazer poemas aos dez. Pela "excelência da obra", foi agraciada com o título de "Poeta Honoris Causa, do Clube Brasileiro de Língua Portuguesa, para oito países lusófonos" .O título foi concedido por sua Presidenta, a poeta Silvia de Araújo Motta e entregue por Conceição Piló, curadora do Palácio da Liberdade, e diretora em MG da IWA, no evento "Poesia é Ouro", havido em sua homenagem no Centro de Cultura Belo Horizonte, em março de 2007. Cargos decorrentes de atuação na arte e literatura.- Pertence à Academia de Trovas do RN desde 1968- Nos Anos 60/70, foi nomeada Delegada Ad Honoren, "com todas as honras de representação distinguida", do Instituto de Cultura Americana, registro 5041-França, Paris, UNESCO, pela filial do Uruguai e da ARIEL (Associação de Livres Pensadores), pela filial de Portugal.- Diretora Regional do InBrasCI-MG(Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais), em Belo Horizonte.- Membro da AVBL, Academia Virtual Brasileira de Letras (Patrono Lindolf Bell).- Embaixadora Universal da Paz, pelo Cercle de Les Ambassadeurs de La Paix-Genebra, Suíça. - Cônsul Zona Central de Belo Horizonte, da entidade Internacional "Poetas del Mundo".- REBRA – Rede Brasileira de Escritoras• Vice-presidente do Instituto Imersão Latina – OCIP- Membro Correspondente da Academia Dorense de Letras – Boa Esperança/MG- Membro Correspondente da ANELCARTES – Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes Ribeirão das Neves/MG.- Membro Correspondente Da Academia de Letras de Itajubá – Itajubá/MG- Pesquisadora do Museu Nacional da Poesia-MUNAP.- Organizou e mantém o Projeto Paz e Poesia com os poetas Marco Llobus e Cláudio Márcio, com evento de âmbito internacional havido em 31 de março, em Belo Horizonte.- Integra a rede Catitu no Núcleo de Entrevistas (Clevane Pessoa entre Pessoas).- Representante do Movimento Cultural aBrace (Uruguai Brasil), na capital mineira.- Delegada da ALPAS XXI por MG e BA. Além dessas atividades, está desenvolvendo o Projeto POIETISA, um livro-álbum aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, de âmbito municipal. Mantém blogs de divulgação cultural estadual, nacional e internacional de entrevistas, e para crianças, indígenas, artistas, escritores e artistas de terceira idade, referentes à paz e à poesia etc.




Fonte: Recanto das Letras - Apresentação de Clevane Pessoa a AFEMIL por Ângela Togeiro.








A Prosa de Clevane Pessoa
Parábola (I) Eva e a Culinária





Numa grande escola de cozinha, o chef era alguém esforçado, apesar de talentoso, ou seja, buscava o crescimento, o aprendizado contínuo e acabou por receber vários prêmios e tíitulos. A escola era grande e recebia pessoas de vários países, embora o Chef representasse, primordial e preferencialmente, o seu.
Certa feita, ouviu falar de uma bodegueira do interior, que inventara alguns pratos com vinho: gelatina, bolo, pavê, assados, balas. Nada que alguém talvez ainda não tivesse feito, mas ela usava, para tempero e flavorizar, folhas, raízes e flores e frutos de seu próprio quintal, misturadas a gotas de mel obtido de secreta floração, tudo acrescentado com sua pitadas de imaginação, criatividade e amor ao trabalho. As pessoas esperavam por vagas na escola chamada "Bouquet Garni". O buquê garni é apenas um amarrado de ervas, mas, usado com sabedoria, melhora o sabor de muitos pratos. Eva sabia dosar o salgado e o doce, fruto e fruta, passas variadas, trufas, cheiros verdes, cebolas e alhos.
O chefe, Juan De La Piedras, que tinha esse nome mas era realamente francês, foi pessoalmente convidar a cozinheira para estagiar em sua Cozinha rebrilhante e sólida, com seus objetos de cobre, ferro, cerâmica e pedra. Espantada, porque já possuía sua preciosa ao longo dos anos, ela disse que não poderia estagiar em tempo integral, subida honra, mas que iria algumas vezes por mês, mas que, em compensação, ela própria abriria as portas da sua, para estagiários que quisessem conhecer sabores provençais, misturados aos wiccanos. O chef gostou de sua disponibilidade e franqueza e, durante algum tempo, houve haromiosa troca e soma entre os dois espaços e os dois cozinheiros que tanto amavam seu que-fazeres. Eva trabalhava conforme sempre o fizera, a cantar e com boa vontade de ensinar o que sabia. Jamais se esquecia de acrescentar às receitas do mestre, a autoria e nem ele.
Na "Bouquet Garni", havia uma sub-chefe muito simpática e brincalhona, que anos antes, aprendera com Eva certos segredos femininos de culinária. Ao ser convidada para tomar o lugar da maestrina, que fazia da culinária, uma canção para a alma, depois de sua passagem pela terra, Eva temeu que a outra, Xênia, desejasse tanto esse posto, que a ferisse e gentilmente, declinou da possibilidade, a favor da outra, a quem admirava pela faculdade de fazer pratos clássicos e patos ácidos ao caldo de laranja.O tempo passou e eis que agora, ambas trabalhavam pela bela causa comum, de Monsieur Juan de las Piedras. Em muitas partes do mundo, as receitas neo-clássicas e as novidades, eram aplaudidas e degustadas. Todos pareciam felizes. Ensinar é a melhor forma de realização de quem sabe... Claro, havia chefs centrados no próprio umbigo. Ao lidar com os outros, escondia as dicas, os segredos, os pulos de gato. Olhavam o umbigo das laranjas-da-terra e não ensinavam a melhor forma de tirar-lhes o amargor natural. Ou o umbigo da bananeira, o coeur que transforma-se em pratos divinos, quando se conhece o segredo das receitas naturais e o desprezavam, fingindo que eram inúteis. Ou o umbigo das grandes abóboras, por onde se tira todo o conteúdo, para enchê-lo de creme ou camarões, depois tampado com a própria tampa para tal reservada...
Eva um dia, recebeu uma carta de um certo Manuelito, grande mago internacional da culinária, a quem ela muito admirava e mencionava em suas aulas. Ele era um grande confeiteiro, também, criando argamassas elásticas de açúcar e lírios e laranjas e limões e leite de coco. Também sabia fazer glacês de pétalas de rosa e jasmins, cujo segredo, somente ele conhecia. Na carta, Manuelito, o Grande, ralhava com Eva por usar receitas wiccanas e não dizer o nome das cozinheiras e feiticeiras do bem que as criaram. Pacientemente, Eva respondeu, contou que herdara o Livro das Sombras de sua tataravó, onde, junto aos encantamentos, havia receitas maravilhosas, embora com ingrendentes de grande quantidade (por exemplo, cinco dúzias de ovos, conforme se usava outrora ou cem cabeças de garlic ou um latão de leite de vaca...), mas depois a bisavó, os reduzira e acrescentara flores campestres, a avó os pingos de mel de floração secreta e, finalmente, sua mãe, que copiara tudo em seu caderno encapado com folhas e flores de pata-de-vaca por baixo de um suave organdi suiço de "pois", a presenteara com o receituário familiar, com apenas dois pedidos: zelasse por eles e jamais revelasse o nome de suas ancestrais, duramente castigadas pela Inquisão. Mais tarde por maridos, sogras e pseudo-amigas. Explicou-lhe que sempre colocava todos os nomes dos cridores das receitas, mas, que alguns casos, eram segredos familiares. Ele passou então, a bombardeá-la com acusações, mesmo se ela fingisse estar tudo bem e divulgasse os sucessos da pessoa intransigente, na verdade, um artista.
O certo é que um dia, Juan resolveu ir a El Puerto de las Gallinas e convidou Eva, para trocarem experiências durante a viagem. Ela ficou feliz, mas confidenciou que reformava sua cozinha e estava um pouco sem dinheiro. Juan contou-lhe que ganhara uma passagens para distribuir entre seu staff e que a levaria. Para poder viajar e deixar tudo esquematizado, Eva contou a uma de suas promissoras treinandas a alegria que sentia em viajar com o grande Chef e treinou a mocinha para manter tudo de acordo, em sua ausência que, afinal, não seria longa.
O tempo passou e uma dia, essa jovem, Sessa, perguntou-lhe pela ida. Ao verificar, Eva, sempre ocupada, viu que já passara a data da viagem. Perplexa, soube que Juan até já retornara, e se perguntou se Manuelito, amigo do primeiro, não inventara algo contra ela. Ainda assim, nada perguntou a ninguém e continuou a cozinhar e ensinar os que conviviam muito perto dela, apreenderam que seu único segredo era, na verdade, imitar os passarinhos, trinando, enquanto cozinhava. Mas, por amá-la verazmente, nada contavam a todos que lhe perguntavam, porque seus acepipes tinham gosto de maná, ambrosia, mel raro e certo desconhecido e perfumado vinho.
Certa feita, correu pela região, que Eva havia falecido, tendo deixado cair sobre si um grande caldeirão com sopa de flores comestíveis. Que nem chegara a sofrer, que avisassem os chefs, gourmets, mâitres, copeiros e todos envolvidos no grande processo de la Ars de La Cousine .
Amigos avisaram a Eva sobre seu suposto falecimento e ela chorou de tristeza: quem seria capaz de tal brincadeira ou seria uma forma de apagá-la aos aos poucos? Enxugou as lágrimas, depois de deixar quealgumas caíssem num chá chamado "La Vie" e o bebesse pausadamente. E continuou, tranqüila, a realizar o trabalho que amava.
Um dia, De las Piedras precisou viajar. Apesar das mais de seis décadas, era uma pessoa dinâmica e que jamais deixava de cumprir seus compromissos. Incumbiu várias pessoas a, paralelamente, organizarem banquetes, exposições e degustações. Xênia, então, pediu a Eva os contatos dos demais, todos aprendizes ou já formados, para enviar a Juan, que os perdera. Depois, perguntou se ela poderia enviar diretamnte aos envolvidos, as tarefas, os convites. Eva começou a fazê-lo, tendo o cuidado de enviar a todos, as mesmas recomendações de Juan de Las Piedras, para que o processo fosse transparente e todos vissem que direitos e deveres eram semelhantes.
Quando Xênia mandou-lhe um recado solicitando os endereços de "meus cozinheiros", mandou-os, sem deixar de registrar que a outra se referira aos sérios e renomados mestres e aprendizes de culinárias, como "seus", será que teria vontade de... Baniu a suspeita, pois sempre levava em consideração o conselho de sua avó Theonila: "Nunca faça mal juízo do ausente".
Juan de la Piedras aguardava isso ou aquilo, quando Xênia, como quem nada quer a mais, contou-lhe que Eva estava passando à frente de ambas, mandando cópias de todas as instruções, et blá-blá-blá.
Juan era muito cuidadoso no trato com seus auxiliares. No fundo sabia que Eva não passaria por cima de sua hieraquia, mas, ainda assim, de tal forma foi sendo envolvido, que acabou por solicitar-lhe que não mais o ajudasse quando não pedira. Que Xênia estava encarregada de fazer circular os avisos e que tinha o endereço, os contatos, de todos os aprendizes e mestres culinários. Eva entendeu, então, de súbito: se a outra conhecia nomes e endereços, por que os pedira a ela? E se não tinha, nem contara que lhe pedira?
Amargurada, foi ao bosquezinho atrás de seu chalé-escolinha, simples e alegre, enfeitado pelo jardim, pelo pomar, plantas medicinais e horticultura. Chorou, meditou e orou. Sentiu uma espécie de estupor e um suor frio correu-lhe pelo corpo. Espirais girandolavam antes seus olhos e as pálpebras pesara. Fechou os olhos. Ou não. E viu a avó. Ela então, cheirando a baunilha e menta, aproximou-se da neta e lhe entregou uma romã. Pomme de Granade. Talismãs. Remédio para garganta. Deliciosa, a romã, usada nas simpatias de início de ano. Aberta, parecia um coração pontilhado de rubis translúcidos. -"Saboreie sete", disse-lhe a anciã, depois de passar as mãos em sua testa, com mãos de pergaminho...
-"Lembre-se que a tristeza é um desperdício de energia. Troque-a por uma renovação: a esperança. E a resiliência. Jamais deixe que a inveja alheia afaste a simplidade de seus propósitos. Continue apenas a ser você mesma".
Mais tarde, já em casa e depois de um sono reparador, Eva foi à sua grande cozinha, aonde a esperavam seus pupilos e alguns mestres. -"Então, agora, vamos apenas criar. "Cada um de nós deverá fazer o que o coração mandar. Escolham no seu receituário o que gostariam de trabalhar hoje.
A risada foi geral, quando todos escreveram, ao mesmo tempo, "bolinhos de chuva", aprendidos com a avó. E cada um, renovou a receita, com ingedientes pessoais, novos, calda de chocolate, glacês variados, ou simplesmente ao natural, os dourados bolinhos que sabiam "se virar sozinhos". Mas, uma coisa esses bolinhos leves tinham em comum: não apenas Eva, mas todos eles, trinaram acompanhando os pássaros da esperança e da solidariedade que cantavam nas árvores, lá fora... E ela, depois de recobrir seus bolinhos de chuva com calda de vinho moscatel, respirou aliviada: sim, a avó tinha razão. Bastava ater-se a seus propósitos e ninguém poderia semear tristezas em seu coração cantante.
O segundo capítulo virá em breve...Aguardem...




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A Poesia de Clevane Pessoa
ENCOSTA-TE A MIM




Venho de tempos idos e viajo para tempos novos.


Desço a encosta do desejo, baqueada de sol quente, mas


inebriada pela luz de mel.


Suada,


exalo o cheiro aéreo das borboletas


que visitaram cravos.


Ah, voejei até mesmo em densas florestas


além do nosso jardim


-enquanto, guerreiro do cetro mágico,


guerreavas numa peleja


inútil e convencional, sem mim.


Eu,que agora vou ao teu encontro,


para amparar-te,


sarar tuas feridas com minha seiva mágica.


Feiticeira, banhei-me em pétalas de lírios,


cravos e rosas


e minha pele inteira


tornou-se a tua cura.




Encosta-te a mim,


serei o totem onde os signais e os signos


revelarão as fórmulas da doce embriaguez amoROSA.


Mulher, ofereço-te meu graal.


Dentro de mim, alastra-se um fogo eternal,


no alabastro do corpo,


mas a pele é morna.


Se tens fome,


oferço-te a Poesia de minha alma em pomar,


que alimenta


com maná e ambrosia.


Se tens sede,


dar-te-ei meu leite,


minha saliva,


meus humores.


Degusta-me.


Se queres dormir,


transformarei meus braços em rede.


Cantarei uma berceuse inventada na hora da neblina.




Encosto-me a ti,


quando te encostas a mim,


e juntos, seremos uma estela pela PAZ,


uma estrela a mais,


um círio na janela,


chama votiva a tentar iluminar a harmonia


e simbolizar a quase impossível, mas real


perenidade dessa paixão que não se acaba,


que não desaba,


porque estamos um ao outro encostados


na encosta do desejo, apoiados


pelas costas um do outro.




A pomba que me trouxeste,


voa livre no azul absoluto...




Degusta-me e te ensinarei


a eternidade dos deuses...


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